2020

Davos termina com pressao por ação ambiental e expectativa quanto ao poder de Paulo Guedes.

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Principais temas do encontro da elite global em Davos

O RUÍDO DE PAULO GUEDES

Em um painel já na terça-feira, o ministro da Economia disse que o maior inimigo do meio ambiente é a pobreza e que “as pessoas destroem o meio ambiente porque precisam comer”.

A fala foi amplamente questionada. No contexto brasileiro, por exemplo, o desmatamento para fins de subsistência é uma porcentagem pequena perto da devastação em curso na Amazônia.

No dia seguinte, uma resposta indireta veio da parte de Al Gore, ativista e ex-vice-presidente dos Estados Unidos, que durante uma mesa sobre a Amazônia disse que desmatar para reduzir pobreza é dar falsa esperança aos pobres.

Em reunião fechada com empresários, Guedes tentou explicar seu raciocínio, dizendo que a questão é que as maiores cobranças ao Brasil vinham justamente de países que já destruíram suas florestas. “Agora falei certo?”, perguntou Guedes a interlocutores na saída da reunião.

A agenda de Guedes incluiu mais painéis, além encontros com investidores e empresários e conversas com representantes de outros governos.

Um dos anúncios feitos pelo ministro lá foi que as empresas estrangeiras poderão, a partir de agora, participar de licitações e outras concorrências em situação de igualdade com companhias brasileiras.

DESIGUALDADE

Uma pesquisa divulgada pelo Fórum no primeiro dia mostrou que cerca de 2 mil bilionários têm mais do que o dobro da riqueza do resto da humanidade combinada. Os dados foram levantados pela ONG britânica Oxfam, que pediu aos governos que adotem “políticas de combate à desigualdade”.

O assunto está ligado com a falta de mobilidade social, tema de um relatório do Fórum. O Brasil é um dos países mais desafiadores para quem quer ascender socialmente, na 60ª posição entre 82 economias.

Em um das sessões, Mohamad Al Jounde, um refugiado sírio que ganhou o Prêmio Internacional da Paz da Criança depois de construir uma escola para crianças que fugiram da guerra em seu país, disse que temia que o foco nas mudanças climáticas tirasse de cena temas como educação, desigualdade e saúde.

As pessoas que lutam para acessar o básico não acham que podem fazer algo sobre o clima, disse ele nesta sexta-feira (24).

Na mesma discussão, Achim Steiner, cientista, diplomata e ambientalista germano-brasileiro, disse que é a desigualdade que faz com que as pessoas acabem questionando a globalização.

 

ECONOMIA DIGITAL

Antes celebradas, as grandes empresas de tecnologia como Google Facebook, Apple e Amazon vêm sido mais cobradas pela sociedade civil e por órgãos reguladores.

No painel “Como Taxar Economias Digitais”, o secretário-geral da Organização para o Desenvolvimento Econômico e Cooperação (OCDE), Angel Gurria, disse que espera lançar as bases de um imposto digital já em 2020.

Há um ano, os países-membros da organização não conseguiram entrar num acordo, mas agora Gurria acredita que “um espaço de consenso poderia se abrir”.

Países europeus estão divididos sobre a melhor forma de cobrar impostos de companhias com sedes em outros países, e Trump ameaça retaliar quem começar a taxar as empresas americanas de tecnologia.

 

GRETA x ECONOMISTAS

No primeiro dia do evento, o presidente americano disse em discurso que os “catastrofistas e suas previsões apocalípticas” deviam ser rejeitados. A jovem ativista sueca Greta Thunberg estava na plateia.

Horas antes, ela disse que nada estava sendo feito para evitar uma catástrofe ambiental e pediu a suspensão imediata dos investimentos em combustíveis fósseis.

Dois dias depois, o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, disse que ela deveria “primeiro estudar Economia na universidade” para depois “voltar e explicar” seu pedido: “Quem ela é, economista-chefe?”, disse. 

Ao ser questionada sobre as declarações de Mnuchin, Greta disse não se sentir afetada: “Não têm qualquer efeito. Eles nos criticam desta maneira constantemente. Se nos incomodássemos, não poderíamos fazer o que estamos fazendo. Nós mesmos nos colocamos no centro das atenções”.

Greta pode não ser economista-chefe, mas Christine Lagarde é, e a das mais importantes: do Banco Central Europeu. O secretário Mnuchin participou de sessão com Lagarde no último dia de evento, sobre o futuro da economia global. E os dois, claro, discordaram sobre o assunto.

 

EMERGÊNCIA CLIMÁTICA

No início do evento, o Fórum divulgou seu Relatório de Riscos Globais e, pela primeira vez em uma década, os cinco principais riscos identificados pelo estudo são relacionados ao meio ambiente, em especial a eventos climáticos extremos, como ondas de calor e enchentes.

Mas não há consenso entre os atores políticos. Mnuchin disse que o planejamento de longo prazo é inútil quando se trata de analisar e conter as mudanças climáticas, enquanto Lagarde disse que é crucial avaliar o risco que a mudança climática representa para os mercados financeiros e a economia.

Apesar da discordância, a grande maioria dos participantes dos painéis defendeu mudanças urgentes. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse que “seremos destruídos pelas mudanças climáticas, não pelo planeta. Isso será para nós uma indicação clara de que precisamos mudar de rumo”, disse.

Já o príncipe Charles expôs uma visão similar: “O aquecimento global, as mudanças climáticas e a devastadora perda de biodiversidade são as maiores ameaças que a humanidade já enfrentou”.

 

O FUTURO DO CAPITALISMO

“O capitalismo, como o conhecemos, está morto. Essa obsessão que temos em maximizar lucros apenas para os acionistas levou a uma desigualdade incrível e a uma emergência planetária”, disse Marc Benioff, fundador da Salesforce, empresa de software, durante um painel.

“Talvez, em algum momento, nós nos atrapalhamos um pouco ao pensar que ganhar dinheiro é o objetivo real da economia, onde o objetivo real é viver felizes aqui todos juntos”, disse Feike Sijbesma, executivo holandês e diretor executivo da DSM, na mesma sessão.

“O modo como fazemos negócios, vivemos e nos acostumamos na era industrial terá que ser mudado. Teremos que deixar isso para trás nos próximos 30 anos e teremos que mudar completamente para novas cadeias de valor “, disse Merkel em seu discurso.

Já o historiador escocês Niall Ferguson, em um painel sobre o futuro do capitalismo democrático, foi além: “O capitalismo é o pior de todos os sistemas econômicos possíveis, além de todos os outros que foram tentados de tempos em tempos.”

Foi uma referência a uma famosa fala do ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill: “A democracia é a pior de todas as formas de governo, com exceção de todas as demais tentadas de tempos em tempos”.

 

HIPOCRISIA CLIMÁTICA

O Fórum, já acusado de hipocrisia climática pela chegada incansável de helicópteros e limusines, quis mostrar seu lado mais verde e lançou uma ambiciosa campanha para plantar ou salvar “um bilhão de árvores”. A medida permitiria capturar CO2, mas que não tem nenhum efeito nas emissões.

Além de proibir utensílios de uso único, a cada 10 refeições servidas, apenas uma tinha carne vermelha. A proteína de origem bovina não podia ser oferecida duas vezes seguidas para a mesma pessoa.

Em todos os encontros de líderes, era obrigatório ter ao menos uma opção vegetariana, preferencialmente vegana. Alimentos sofisticados, como caviar, lagosta, foie grass e trufas, foram banidos do cardápio. De sobremesa, frutas.

Fonte: EXAME 25/01/2020

 

 

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